Sonhei que em um reino muito distante não se conhecia o bem absoluto apesar de sua presença incontestável.
O senhor de todo mal, Mestre Egorgulho, dominava as ações, reinava sobre os sentimentos e escravizava as emanações etéreas... as poesias.
De onde eu estava podia contemplar visualmente o casarão de Mestre Egorgulho, era tão perto que muitas vezes a imaginação me confundia e pensava estar lá dentro, principalmente quando ouvia o doce burburinho das poesias. Não tinha noção do tempo e os lugares me confundiam. Minha certeza era a importância de ser e de que as poesias eram.
Minha catalepsia foi quebrada por uma gritaria, luzes e um alvoroço geral. Tomei coragem e fui até o casarão. A porta estava aberta, muitas luzes acesas e apenas a governanta me atendeu. Não precisei perguntar nada, parecia que ela lia meus pensamentos! Então, falou:
_ Uma poesia se revoltou com a escravidão, aproveitou raro descuido e fugiu. O Mestre foi atrás dela acompanhado de sua guarda pessoal , os estigmatizadores, seres criados para aprisionar toda forma de alegria espontânea.
Imediatamente percebi a gravidade da situação. A poesia estava em perigo. Senti-me atraído por sua insanidade, ou beleza, ou coragem , não sei. Quase que a enxergava sem abrir os olhos, senti que precisava fazer alguma coisa. Comecei a correr. Precisava chegar até ela antes que ele. Ela corria pelos campos, procurava um lugar para se ocultar. Achei um labirinto de muros altos, podia ouvir Mestre Egorgulho chegando perto. Sabia que ela estava lá. Procurei por todos corredores, um a um, sua aflição me entorpecia. Quando a alcancei o inimigo estava muito próximo.
Sentada no chão, rosto entre as mãos, uma aura de tristeza profunda cercava o lugar. Com a urgência que a situação requeria a envolvi com meus braços e ela se levantou. Era poesia encarnada em forma de uma jovem. Seus olhos azuis me encantaram, seu cabelo dourado ao vento parecia reger uma sinfonia. Entendi que era a poesia do amor.
Mestre Egorgulho e seus asseclas observavam a distância, mas uma força maior os repelia.
Indaguei a ela:
_ Por que não me chamou antes? Eu teria te ajudado desde o começo! Sem responder nada ela sorriu, fechou os olhos e se encolheu no meu abraço. Caminhamos juntos desde aquele momento. O mal nunca mais se aproximou!